05 maio, 2010

Algo que me incomodou




A adoção de crianças por casais gays já é de muito tempo debatida e problematizada. Quer dizer, a adoção em si no Brasil já é conturbada, mas isso não vem ao caso.


No aconchego do meu lar e no prazer do meu café noturno, incorro no erro de assistir o Programa do Ratinho no Sistema Brasileiro de televisão (vulgo SBT). Quando penso que não, antes até de tomar a primeira golada do chocolate quente e tirar o primeiro pedaço do pão, ouço o apresentador Massa anunciar uma enquete e o tema de um debate que aconteceria em seu programa em tom jocoso e tendencioso: "Você é contra ou a favor da adoção de crianças por casais homossexuais?". Isso já me fez remexer na cadeira e engolir em seco o pedaço do pão. Para debater tal questão ele (o "Massa") chama ao palco uma promotora e um casal de homossexuais masculinos. Antes de iniciar a "conversa-discussão", é apresentado o caso de duas mulheres que adotaram duas meninas no Rio Grande do Sul. Até aí menos mal, a discussão caminha sofregamente assim como o meu café. Entretanto, quando essa promotora começa a expor seu posicionamento notadamente hipócrita de que não era contra a união estável homossexual, era a favor da adoção e respeitava os homossexuais, MAS que tinha um pequeno detalhe nessa adoção, o casal de homossexuais revolveu-se na poltrona e esperaram afoitos o continuar do comentário dissimulado e pautado no fundamentalismo cego de que Família se constitui apenas com um HOMEM e uma MULHER. Ela dizia que o preço pago pela criança por ter dois pais ou duas mães era muito alto, falou também do constrangimento na escola e perante a sociedade em dizer quem são seus pais ou suas mães e fora o "egoísmo" de duas pessoas do mesmo sexo resgistrarem com seus nomes uma só criança, para ela isso era lastimável. O casal gay perante essa situação assume uma posição ofensiva (que lhes é justo) em lutar e acreditar em seus direitos citando da Constituição Brasileira os parágrafos terceiro e quinto que dizem, respectivamente, que todos são iguais perante a lei e devem ser julgados sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Em meio a essas afirmações ouve-se da platéia gritos e aplausos que se confundem entre sendo a favor ou contra a adoção de crianças por casais homossexuais, ora era quando a promotora falava, ora quando o casal gay se pronunciava ou ainda quando o bobo do circo apresentador (ops! o Carlos Massa) fazia algum comentário idiota e preconceituoso. Ao terminar meu café, antes mesmo de se encerrar a discussão fadada ao erro, saio da cozinha desligando a televisão. Resumindo a situação (até onde vi), houve claras demonstrações de ignorância, preconceito e burrice ante as questões homoafetivas. Vale ressaltar, a promotora dizia não ser HOMOFÓBICAAA!




Twee Vaders, Dois Pais, Two Fathers


2 comentários:

  1. Cada um diz o que quer, não é?
    Ela é, no mínimo, sem senso por ir a tv falar de coisas que envolvem sentimentos que nunca lei qualquer vai descrever. Deixa o mundo seguir.
    Afinal, se houver algum prejuízo, o que seria mais danoso para uma criança: a condenação do abandono em abrigos públicos, onde se vive tortuosa espera por um lar, ou ter que lidar com a sociedade sobre ter pais do mesmo sexo?
    Fica a interrogação.
    Abraço grande.
    Belo post.
    Excelente assunto.

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  2. Obrigado, Angelo, pela leitura!
    É isso, ainda persiste uma grande má vontade em se tratar questões homoafetivas talvez ligadas as fundamentalizações religiosas, (i) morais, hipócritas... Sei lá quantas mais explicações. Porém a "passagem dos homossexuais das margens da sociedade para o seu centro ainda não se completou, mas se testemunhou um rápido progresso nos últimos anos” (Giddens).

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